sábado, 2 de maio de 2009

Nos tempos dos meus bochinchos

A um bochincho certa feita, fui chegando - de curioso, que o vicio é que nem sarnoso,nunca pára nem se ajeita.Baile de gente direita vi, de pronto, que não era,na noite de primavera gaguejava a voz dum tango e eu sou louco por fandango que nem pinto por quirera. Atei meu zaino longito,num galho de guamirim,desde guri fui assim, não brinco nem facilito.Em bruxas não acredito 'Pero - que las, las hay'.Sou da costa do Uruguai, meu velho pago querido.E por andar desprevenido há tanto guri sem pai. No rancho de santa-fé, de pau-a-pique barreado, num trancão de convidado me entreverei no banzé.Chinaredo à bola-pé,no ambiente fumacento,um candieiro, bem no centro,num lusco-fusco de aurora,pra quem chegava de fora pouco enxergava ali dentro! Dei de mão numa tiangaça que me cruzou no costado e já sai entreverado entre a poeira e a fumaça.Oigalé china lindaça,morena de toda a crina,dessas da venta brasina,com cheiro de lechiguana que quando ergue uma pestana até a noite se ilumina.Misto de diaba e de santa,com ares de quem é dona e um gosto de temporona que traz água na garganta.Eu me grudei na percanta o mesmo que um carrapato.E o gaiteiro era um mulato que até dormindo tocava e a gaita choramingava como namoro de gato!A gaita velha gemia, ás vezes quase parava,de repente se acordava e num vanerão se perdia e eu contra a pele macia daquele corpo moreno,sentia o mundo pequeno,bombeando cheio de enlevo dois olhos - flores de trevo com respingos de sereno! Mas o que é bom se termina cumpriu-se o velho ditado,eu que dançava, embalado,nos braços doces da china.Escutei de relancina,uma espécie de relincho,era o dono do bochincho,meio oitavado num canto,que me olhava com espanto,mais sério do que um capincho! E foi ele que se veio,pois era dele a pinguancha,bufando e abrindo cancha como dono de rodeio. Quis me partir pelo meio num talonaço de adaga que se me pega me estraga,chegou levantar um cisco,mas não é a toa - chomisco!Que sou de São Luiz Gonzaga! Meio na volta do braço,consegui tirar o talho e quase que me atrapalho porque havia pouco espaço,mas senti o calor do aço e o calor do aço arde.Me levantei sem alarde,por causa do desaforo e soltei meu marca touro num medonho buenas-tarde! Tenho visto coisa feia,tenho visto judiaria,mas ainda hoje me arrepia lembrar aquela peleia.Talvez quem ouça não creia,mas vi brotar no pescoço, do índio do berro grosso como uma cinta vermelha e desde o beiço até a orelha ficou relampeando o osso!O índio era um índio touro,mas até touro se ajoelha,cortado do beiço a orelha amontoou-se como um couro,e aquilo foi um estouro,daqueles que dava medo,espantou-se o chinaredo e amigos foi uma zoada,parecia até uma eguada disparando num varzedo! Não há quem pinte o retrato dum bochincho quando estoura,tinidos de adaga - espora e gritos de desacato.Berros de quarenta e quatro de cada canto da sala e a velha gaita baguala num vanerão pacholento,fazendo acompanhamento do turumbamba de bala! É china que se escabela, redemoinhando na porta e chiru da guampa torta que vem direito à janela,gritando de toda guela,num berreiro alucinante,índio que não se garante,vendo sangue - se apavora e se manda campo fora,levando tudo por diante! Sou crente na divindade,morro quando Deus quiser,mas amigos se eu disser,até periga a verdade,naquela barbaridade,de chínaredo fugindo,de grito e bala zunindo,o gaiteiro alheio a tudo,tocava um xote clinudo,já quase meio dormindo! E a coisa ia indo assim,balanceei a situação,já quase sem munição,todos atirando em mim.Qual ia ser o meu fim.Me dei conta de repente,não vou ficar pra semente,mas gosto de andar no mundo,me esperavam na do fundo,saí na Porta da frente...E dali ganhei o mato,abaixo de tiroteio e inda escutava o floreio da cordeona do mulato e, pra encurtar o relato,me bandeei pra o outro lado,cruzei o Uruguai, a nado,que o meu zaino era um capincho e a história desse bochincho faz parte do meu passado! E a china? essa pergunta me é feita a cada vez que declamo .É uma coisa que reclamo porque não acho direita considero uma desfeita que compreender não consigo,eu, no medonho perigo duma situação brasina todos perguntam da china e ninguém se importa comigo! A china - eu nunca mais vi no meu gauderiar andejo,somente em sonhos a vejo em bárbaro frenesi.Talvez ande - por aí, no rodeio das alçadas,ou talvez nas madrugadas,seja uma estrela chirua dessas que se banha nua no espelho das aguadas!

2 comentários:

  1. "..todos perguntam da china e ninguém se importa comigo!"
    "Talvez ande - por aí, no rodeio das alçadas,ou talvez nas madrugadas,seja uma estrela chirua dessas que se banha nua no espelho das aguadas!"

    nem tem muito mais o que dizer, sendo que o que importa é você saber onde está a sua importância.. e como fazer su felicidade e acalmar sua inquietudes..
    ;*

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  2. ela disse tudo o qe eu qeria dizer, mas não sabia com qe palavras expressar.


    Pode deixar qe eu vejo, eu tenho paciência de ficar vendo, apesar de estar meio sem tempo!

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